sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Daqui onde estou posso ver o Oleiro!
Ele prepara um novo vaso, vejo suas mão habilmente moldarem as formas arredondadas e perfeitas, há tanta serenidade em seu rosto, há tanta luz na olaria!
escuto o crepitar do fogo no forno, alguns vasos estão lá!
Olho as prateleiras, cheias de vasos, de todas as cores e tamanhos. O Oleiro agora olha o vaso que terminou, e calmamente coloca-o para secar, passa ao lado de uma das prateleiras, olha por longo tempo vaso a vaso, e escolhe um! olha para esse demoradamente, e percebe uma pequena rachadura, leva-o até a mesa, e aos poucos vai quebrando o vaso, pedaço a pedaço, tudo que posso ver é seus olhos tão bondosos, olhando cada pedacinho com tanto amor, Ele terá de fazer esse vaso outra vez!
Lembro-me dos dias em que estive naquelas prateleiras, Ah! quão maravilhoso era, o Oleiro usava-me todos os dias, guardava em mim um óleo perfumado, e todos os dias pegava em suas mão algumas gotas desse óleo. 
Mas teve um dia, lembro bem, em que meus olhos avistaram o mundo além da janela da olaria, parecia haver tanta coisa lá fora, e comecei a passar meus dias a aspirar a vida lá fora!
Nem percebia que o Oleiro já nem usava mais meu óleo, pois estava já sem aroma, estava já quase seco! então de repente parei aqui, não lembro quando, mas deve ter sido em uma das minhas tentativas de pular pela janela para a vida lá fora.
Quanto tempo estou aqui? não sei, mas parece-me uma eternidade, é escuro aqui, há tantas pedaços de mim espalhados que sinto que nunca mais poderei ser inteiro outra vez! há tanto pó em meus pedaços, insetos fizeram de partes de mim sua morada. quanta ironia de vaso de óleo perfumado a cacos que se tornaram morada de insetos!
Olho as mãos do Oleiro, quanta saudade sinto delas, quanta saudade tenho do seu toque! estou aqui embaixo dessa prateleira, ah, se o Oleiro soubesse que estou aqui, se Ele pudesse me ver! Mas foi eu quem procurei por isso, agora percebo como a vida na olaria é a melhor que há, não existe nada melhor que ser vaso do Oleiro, mas é algo do meu passo, pois agora estou aqui, em tanto pedaços. E mesmo que houvesse outra alternativa, poderia o Oleiro me perdoar? perdoaria-me por ter eu desejado outra vida?
Mas ao menos estou vendo-o, e entre viver longe do Oleiro e viver aqui, em pedaços mas perto Dele, mil vezes preferiria viver em pedaços mas perto Dele!!!
Há tanta paz na olaria, Ele terminou seu trabalho com o vaso, esta deixando o vaso secar agora, vejo seu andar manso, Ele pega uma vassoura que esta próxima ao forno, e começa a limpar a olaria, vai varrendo pedacinho por pedacinho, Ele se aproxima do local onde estou, mas Ele não pode me ver, estou aqui embaixo, perdido!
Mas, Ele me varre, Oh! Ele me encontrou, Ele varre cada pedaço de mim, posso quase tocar seus pés agora, a orla de suas vestes encostam em mim! os Olhos do Oleiro olham meus pedaços, e suas mãos me alcançam, Ele me põe sobre a mesa!
- Oh! você estava perdido? sinto falta de seu óleo! vamos ter um pouco de trabalho aqui! mas logo logo perfumarei minhas mãos com seu óleo.
O Oleiro, sorri para mim, Ele me encontrou! Ele vai me fazendo de novo, pouco a pouco vou adquirindo forma, é difícil passar pelo forno, mas o resultado final é indiscritível, estou feliz!
- Hum! esta mais bonito que antes, não acha? - o Oleiro me olha com olhar de satisfação, coloca-me na parteleira outra vez! estou tão cheio, que quase transbordo, ele perfuma suas mão com meu óleo!
Olho ao redor, há tanta alegria em mim, nada se compara a vida na olaria, nada se compara a ser vaso cheio do óleo perfumado do Oleiro!
vejo no canto do armário, um vaso olhando pela janela, ele suspira! me chego perto dele
- Amigo! nada se compara a vida na casa do Oleiro...

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