sábado, 29 de maio de 2010

Seu rosto estava banhado em lágrimas, prostava-se diante dele, a cabeça quase tocava o chão, e os seus cabelos se emaranhavam em meio seu rosto molhado, podia-se ouvir o ofegar daquele peito cansado, a dor era tão intensa que sentia seu coração quase se ragar dentro do peito, seu choro engolia todo o fôlego, até seu corpo contorcer-se em necessidade de ar.
Uma agonia intensa rasgava-lhe a alma e sentia que, se por acaso se inclinasse um pouco mais poderia arrancar pela boca a dor que lhe castigava, mas então percebia que não era uma dor física, mas uma dor que lhe torturava a alma, nascia do meio do seu peito e espalhava-se em ondas por todo o corpo até sentí-lo trêmulo, não podia erguer o rosto, queria, tentava e não podia, sentia que a vergonha pressionava a baixar-se um pouco mais, a curvar-se um pouco mais.
As palavras brotavam em sua garganta e morriam antes mesmo de sair pela boca, apenas o gemido restava, um abafado gemido, doía os ouvidos aquele gemido, a guarda real estava inteira alí, todos em linha, com a mão direita postada sobre a espada ainda em suas bainhas, queixo erguido, olhava para frente, defendiam o rei com suas vidas, sem nem mesmo pensar, seus rostos belos não demonstravam nenhuma sensação, mas aos poucos aqueles dolorosos gemidos fizeram com que lágrimas deslizassem pelos rostos paralisados.
A dor no peito era cada vez mais intensa, havia medo de olhar para ele, e ver os olhos de desprezo e reprovação, de ouvir a voz firme condená-lo, os pensamentos começaram a se bagunçar em sua mente.
"Eu pedi uma chance ele me deu, pedi outra e outra e outra vez, mas falhei, falhei tantas vezes que até mesmo eu perdi a paciência, me detestei todos os momentos que errei, imagina ele então? o próprio rei? e agora, vou lhe dizer o que? olha rei, eu vou tentar mais uma vez, sabe, sei que só errei, que falhei e vacilei, mas desta vez vai ser diferente. não foi estas mesmas palavras que usei da outra vez?"
Outra vez o medo rondava, ouvia as palavras dele ecoarem em sua mente: " vai te condenar a morte! você simplesmente não tem solução! ele se cansou! olhe nos olhos dele e veja a ira!"
Sua boca se abriu e mal podia-se ouvir a palavra, a única palavra que saiu de sua boca:
- Perdão!
Houve um silêncio, parecia durar uma eternidade, queria ter coragem de erguer o rosto e olhá-lo, mas a vergonha o mantinha no chão, não ouvia resposta alguma, e agora a agonia era tão intensa, que sentia que morreria em desespero,de repente sentiu uma mão bondosa tocar-lhe o ombro, uma sensação boa invadiu seu peito, então duas mãos fortes fizeram com que se levantasse do chão, sentiu o abraço, um abraço tão forte, deixou-se desabar naquele abraço e chorou o choro mais intenso, chacoalhando seu frágil corpo, não ouvia mais a voz do medo, não sentia mais aquela agonia, mas uma sensação de paz lhe envadiu o peito e seus pensamentos agora eram só bons pensamentos, uma alegria lhe tomou conta, e em meio ao choro não conseguia parar de sorrir, olhou-o então, e surpreendeu-se, havia tanto amor, tanto amor naqueles olhos, um amor que jamais imaginou que poderia existir, a esperança entrou em seu coração, abraçando apertado. o rei sorriu, apertando o corpo pequeno em seus braços, e ali ficaram em silêncio por um longo tempo, esta foi a resposta do rei em meio a todas falhas que havia cometido, mesmo consciente delas, a resposta do rei foi um abraço de amor.
Sem moverem-se do lugar, a guarda real chorava em alegria!

Um comentário: