segunda-feira, 24 de maio de 2010

- Está tudo tão bagunçado.
Ele olhou ao redor, as coisas jogadas pelo chão, gavetas e portas abertas, papéis empilhados, alguns potes destampados com todo o seu conteúdo espalhado, ela estava sentada no chão olhando um velho baú de madeira, praticamente arrancava as coisas de dentro do baú.
- procurando alguma coisa?
ele chegou perto dela e olhou o conteúdo do baú, as mãos dela tremiam, e ela sem levantar o rosto para ele respondeu com voz embargada,
- estou procurando algo, sei que está por aqui em algum lugar.
- o que é? talvez eu possa ajudar.
ela parecia não ter ouvido o que ele falou, jogou o baú para um canto e levantou-se apressadamente, subiu em uma pequena escada em frente ao armário e começou a espalhar bagunças que estavam na parte de cima por toda parte, as palavras começaram a sair de sua boca, apressadas e atrapalhadas e suas mãos moviam-se com tanta agilidade, levando aos olhos pequenos pedaços de papéis e pequenos objetos, depois eram atirados por tras do ombro e se espalhavam pelo chão.
- antes havia tanto aqui dentro, eu podia sentir o cheiro quando entrava, em todo lugar esparramava-se pelo chão, sentia até mesmo o sabor doce sem ao menos colocar em minha boca, tinha uma textura suave e aveludada, eu nuca reparei que aos poucos começou a diminuir, uma vez achei que não tinha mais o mesmo sabor e o aroma era quase imperceptível, mas então achei que era coisa da minha cabeça, só que hoje ao abrir a porta percebi que havia sumido, não havia mais nada, mas eu sinto que ainda há algum pedaço escondido em algum lugar, eu sei, só tenho de encontrar...
- ei, ei, mais devagar, do que você está falando? o que é que estava espalhado? o que você procura?
ele estava olhando para ela e tinha a absoluta certeza de que seus olhos estavam encharcados pelas lágrimas, ela não o ouvia, ele percebeu que ela apenas chorava e com as mãos tremidas procurava algo que ele não sabia o que era, ela começou a falar novamente,
- eu sei que se encontrar um pedaço pequeno que seja poderei fazer crescer outra vez, e ser como era antes, eu preciso daquele aroma, daquele sabor, eu simplesmente preciso que seja como era antes...
- me diga, ele disse veemente, o que você procura, talvez eu possa ajudar!
ela parou de procurar, baixou a cabeça por um instante que para ele pareceu uma eternidade, então virou-se para ele e o olhou demoradamente, os olhos dela tinha um cor tão profunda que demonstravam dor, ele sentiu receio, e sentiu as palavras sumirem de seus lábios, deixando sua boca vazia.
- Amor, estou procurando um pedaço de amor!
Ele fechou a porta daquele coração e a deixou lá procurando um pequeno pedaço de amor, saiu andando e simpleste não olhou mais para tras.

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