quinta-feira, 13 de maio de 2010



Ela olhava para a chuva lá fora, o rádio tocava uma canção antiga, a voz do cantor ecoava pela cozinha, a chuva batucava no vidro um ritmo suave, sem perceber ela tamborilava os dedos na mesa acompanhado o som da chuva.
Suspirou, olhou para a xícara de café fumegante bem a sua frente, o aroma do café havia tomado conta da cozinha, era uma manhã fria, ela se encolheu no pijama de flanela listrado, estava sozinha, na verdade estava sempre sozinha, passou a mão pelos cabelos bagunçados, ouviu as batidas do relógio anunciando que era sete horas da manhã, fechou os olhos e tentou lembrar desde que horas estava acordada, não lembrava na verdade de ter dormido, então o riso dele veio a sua mente, ela sorriu, gostava daquele riso, lembrou das palavras exatas ao telefone, ela sempre sabia de cor tudo que conversavam, todas as conversas, todos os risos.
“ Você fez muita falta hoje”
‘ Sério?” e então o riso, ela imaginava ele jogando a cabeça para traz e rindo, como sempre fazia, as vezes ela pensava que ele estava simplesmente fazendo um jogo e nada mais, mas então ela lembrava o quanto ele era sincero, em tudo que dizia.
“lembrou de mim hoje?”
O riso, “ hoje tive um dia tão atarefado que nem deu tempo de lembrar de alguém”
Pensou nele com carinho, pensou no gosto do beijo que nunca teve, no toque do abraço que nunca deu, ela ficou assim por tanto tempo que levou um susto quando o telefone tocou na sala.
“alô”
“ estarei te esperando em meia hora. Ok?”
Oh, minha nossa ela tinha menos de vinte minutos para se vestir, e pegar sua companheira de trabalho, mas qual roupa por? Qual ele notaria mais, apesar de que ultimamente qualquer uma que ela colocasse sempre receberia aquele doce olhar que nadava dentro de seus olhos. Sorriu pra si mesma.
“ok. Estarei aí”
Ela dirigia sem pensar em nada, apenas o sorriso bobo em sua boca, o silêncio no carro foi quebrado pela música que sua amiga colocou, um pouco agitada, mas ela nem se importou, apenas sorria.
Ao entrar no escritório foi o sorriso dele que a fez sentir-se no ar, ele a olhou dentro dos olhos, e não foi necessário palavra alguma, ela entendeu.
Olhou para as botas cowtry de um marrom quase creme, que usava, estavam respingadas da chuva, a pequena saia jeans estava um palmo acima do joelho, tirou o casaco de lã caramelo que usava, deslizou as mãos sobre a camisa branca e ajeitou o lenço de seda ao redor do pescoço, ela olhou de canto de olho e percebeu que ele a olhava, acompanhava o deslizar de suas mãos, olhava os detalhes de seu rosto, ela sentou-se sorrindo, poderia vir o que viesse, ele estava ali, e isso já lhe bastava.
Ela olhava ao redor, ouvia o choro de alguns, e a voz desesperada de outros, parecia tudo em câmera lenta, as coisas pareciam estarem fora do lugar, correria, desespero, suas mãos estavam molhadas, ela sentia um dor aguda e queimada em baixo das costelas do lado esquerdo, olhou suas mãos estavam vermelhas, como tudo aquilo acontecera? Ela não conseguia lembrar, tinha uns flash de alguém entrando, gritando, havia uma arma ela lembrava disso, ouviu uns estampidos e de repente estava ao chão, escondendo-se, ela estava olhando suas mãos tentando entender, e então olhou para frente e perdeu-se naqueles olhos imensos e castanhos, mas agora não eram doces, era de desespero, de medo e de saudade, aqueles lindos e imensos olhos olharam suas mãos, então ela sentiu o perfume dele, sentiu o toque dele e deixou-se desabar naquele colo, os olhos dele, eram os olhos dele, os olhos dele lhe traziam paz, segurança e ela não conseguia parar de olhar, ela sorriu, deslizou a mão sobre o rosto dele, uma marca vermelha ficou na pele morena, ela não queria parar de olhar aqueles olhos, de perder-se lá dentro, mergulhar naquele amor, naquela paz, mas estava tão difícil, e foi vencida pelo cansaço, levou com ela aquele olhar, ah, foi aquele olhar que a conquistou, e ela o amou intensamente, e agora que ela estava em seus braços, tão linda, tão sem vida, ele soube, ele a amou desde o primeiro momento que a viu.





Lílian Soares
04.05.10

Nenhum comentário:

Postar um comentário